O abandono das técnicas tradicionais do cultivo do café e o uso indiscriminado de pesticidas e fungicidas está a aumentar de forma drástica a proliferação do fungo da ferrugem, que está a afectar plantações e colheitas de café na América Central e no México, informou o ecologista John Vandermeer, da Universidade de Michigan.
O ecologista realizou estudos científicos numa plantação de café orgânico no sul de Chiapas, México, durante 15 anos.
“Nos últimos 20 a 25 anos, muitos produtores de café da América Latina abandonaram as técnicas tradicionais de cultivo, que era feito sob a sombra projetada por diversas espécies de árvores.”
No intuito de aumentar a produção, grande parte da plantação converteu-se no chamado “café de sol”, em que não há cobertura que proteja o café dos fungos, criando maior dependência de pesticidas e fungicidas para manter as pragas sob controle.
John Vandermeer afirmou que mais de 60% das árvores que foram estudadas possuem agora 80% de queda das folhas devido ao fungo da ferrugem.
O fungo da ferrugem ataca as folhas da planta e interfere na capacidade da mesma de realizar a fotossíntese. Dessas plantas, 30% não possuem mais qualquer folha e cerca de 10% já morreram.
Segundo John Vandermeer, o cultivo na sombra possui um panorama muito diferente, pois activa um fungo de halo branco que ajuda a conter a proliferação do fungo da ferrugem, bem como o ataque de certos insectos prejudiciais.
Para o ecologista, o resultado das perdas na colheita dá-se pelo uso indiscriminado de pesticidas e fungicidas e pelo baixo nível de biodiversidade encontrado nas plantações de café ao sol.
“Sem o fungo de halo branco para travar a proliferação do fungo da ferrugem, este tem sido capaz de dizimar as plantações de café da Colômbia e do México”, explica John Vandermeer.
A situação atual é a pior vista na América Central desde que a praga chegou à região há mais de 40 anos; recentemente, a Guatemala uniu-se às Honduras e à Costa Rica declarando “emergência nacional” devido à praga.
“O presidente guatemalteco disse que, devido à praga, a produção de café poderia ter uma perda de 40% no país durante a safra de 2013/2014”, afirmou o ecologista.
“Tenho informações pessoais de amigos que trabalham com café na Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Nicarágua e México. Todos dizem que esta é a maior perda que já tiveram”, acrescentou Jonh Vandermeer.
O que ainda não se sabe é se esta infestação diminuirá com o decorrer deste ano e se voltará aos níveis anteriores.
“Talvez isto se converta em algo relativamente permanente e fixo na região”, salientou John Vandermeer, advertindo sobre as pesadas consequências para os produtores de café.
O fungo da ferrugem foi descoberto nas proximidades do Lago Victoria na África Oriental em 1861 e mais tarde foi identificado e estudado no Sri Lanka em 1867, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, citados pela Universidade de Michigan.
A praga espalhou-se por grande parte do sudeste da Ásia e África. O fungo da ferrugem ficou conhecido no hemisfério ocidental em 1970, quando foi encontrado na Bahia, Brasil. Desde então, começou a espalhar-se para todos os cafezais da América.
O fungo infecta principalmente as folhas de café, mas também afecta frutos, brotos e outras culturas diversas. Os esporos do fungo propagam-se pelo vento e pela chuva.
Fonte: The Epoch Times