Se o universo do café tivesse coração, estaria num campo agrícola encravado entre prédios, nos arredores de Lisboa, e não nas vastidões africanas ou americanas onde é produzido.
“Não há outro lugar no mundo onde se faça um trabalho como este”, garante o engenheiro agrónomo Vítor Várzea, de 55 anos, um dos principais cientistas, da dezena de investigadores, que mantém e desenvolve um projecto iniciado há pouco mais de meio século – o Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC), em Oeiras.
Num país onde não se produzem os grãos com que se faz a segunda bebida mais consumida no mundo, acabou por se desenvolver o conhecimento científico que impediu a repetição de catástrofes como a que ocorreu no final do século XIX no Ceilão, actual Sri Lanka, quando a ferrugem do cafeeiro destruiu por completo a principal produção agrícola do país, levando-o à bancarrota.
Plantas de centenas de diferentes espécies, tamanhos e colorações distribuem-se pelo complexo de estufas com uma área equivalente a três quartos de um campo de futebol, que reproduz o calor e o ar carregado de humidade indispensável ao sucesso dos cafeeiros. Mas para ver o efeito prático do trabalho realizado naquela canto da Estação Agronómica Nacional, é necessário ir à Ásia ou à América do Sul.
Na China e na Tailândia, a maioria dos cafezais nasceram de sementes produzidas no CIFC e, no Brasil, foi até dado o nome “Oeiras” a uma variedade de café em homenagem ao centro de investigação português, conta Vítor Várzea durante a visita guiada às instalações do centro, integrado no Instituto de Investigação Científica e Tropical.
Fonte: Diário de Notícias