Subscrição de CoffeeLetters

Após descobrirem em 2004 uma variedade de grão de café que não contém cafeína, investigadores do Instituto Agronómico de Campinas (IAC), de São Paulo (Brasil), continuam a avançar na procura de um produto que seja comercialmente viável, ainda que o processo seja naturalmente lento e que o prazo para isso seja medido em anos.
Baptizada de “AC”, em homenagem a Alcides Carvalho, considerado o maior investigador no melhoramento genético do café no Brasil, a variedade possui apenas 0,1% de cafeína, o que é praticamente nada quando comparado com os grãos tradicionais de arábica (com um teor de 1,2%) e de robusta (com um teor de 2,4%).
A investigadora Maria Bernadete Silvarolla recorda que a característica foi encontrada em três exemplares do banco de germoplasma do Instituto, um cafezal com cerca de 60 mil plantas. Foi atingido esse teor mínimo de cafeína através de uma mutação genética natural de grãos arábica, sem a interferência do homem. “Passámos a ‘pente-fino’ os cafezais para obter variedades que pudessem, através de cruzamentos convencionais, levar a esse resultado. Mas encontrámos exemplares prontos”, afirmou a investigadora.
A descoberta ganhou visão internacional com a publicação, em 2004, de um artigo na revista científica Nature. Desde então, o desafio tem sido tornar esses grãos, naturalmente descafeinados, comercialmente viáveis, mas o obstáculo ainda é aumentar a sua produtividade. Enquanto uma boa média é de 20 a 30 sacas de café colhido por hectare, a variedade “AC” rende, no máximo, 10 sacas.
O trabalho de melhoramento genético convencional é no entanto vagaroso. Os cruzamentos são realizados manualmente, e transferem os genes do grão naturalmente descafeinado para sementes de uma cultivar modelo de café arábica. A muda de café só vai gerar os primeiros grãos após quatro anos de ter sido plantada.
O IAC obteve recentemente a segunda geração de plantas obtidas desses cruzamentos e os resultados foram satisfatórios, mas afirma que só poderá comprovar que chegou à produtividade desejada após quatro colheitas. “Precisamos encontrar características boas de dois ancestrais diferentes. Antes de 2020 não teremos nada a mostrar”.
Para a investigadora, Maria Bernadete Silvarolla, a nova variedade de grão contribuiria para aumentar os ganhos dos agricultores, que passariam a ter um produto diferenciado com grande aceitação. Um grão de café naturalmente sem cafeína poderia, por exemplo, obter a certificação de orgânico.
De acordo com dados internacionais, apenas 10% de todo o café consumido no mundo (40 milhões de sacas em 2010) é descafeinado. Embora não existam indicadores fidedignos sobre a tendência de consumo desse tipo de café, especialistas afirmam que os consumidores mais ávidos são os americanos e os europeus.
Fonte: Revista Cafeicultura