A reacção frágil da oferta de café deu o tom do movimento deste mercado em 2011. Só a título de exemplo, o indicador dos preços recebidos pelos produtores brasileiros de café arábica (Cepea/Esalq) alcançou a média de R$ 494,98 por saca, de Janeiro a Novembro de 2011, contra a média de R$ 220,11, obtida durante toda a década de 2000.
Há 14 anos que não existiam preços nominais tão elevados. Em meados dos anos 90, factores climáticos tiveram um papel preponderante ao reduzir drasticamente a oferta. O que observamos hoje, porém, além do comportamento sazonal já esperado da oferta, é uma tendência persistente de alta sem que tenha ocorrido um factor exógeno relevante. Isto é, a subida dos preços médios não foi causada por fenómenos que originam queda de oferta, como variações climáticas.
Para qualquer observador do mercado, não é difícil verificar que é na procura que se encontra a principal razão para a tendência de alta. A procura crescente resulta da relação entre o stock e o consumo mundial nunca antes vista – o café em stock corresponde a menos de dois meses de consumo mundial.
As estimativas são de taxas de crescimento anuais do consumo mundial de café próximas de 2,5% para os próximos anos, o que representa a maior da história. Este crescimento não deixa de ser curioso, particularmente quando se tem em conta o cenário global de crise.
Olhando de forma mais detalhada para os dados de consumo de café por região, verifica-se que, entre 2010 e 2011, a taxa de crescimento nos mercados tradicionais foi de 1,1%, tendo a União Europeia o pior desempenho, com alta de apenas 0,5%. Já nos países produtores o consumo cresceu 4,3%, com destaque para a Indonésia (7,2%) e o México (6,5%). O Brasil manteve a tendência de maior consumo, com uma taxa de 4% e, nos mercados emergentes, a alta foi de 3,8%.
Estes dados mostram que a crise, embora tenha afectado o consumo dos mercados tradicionais, não afectou a trajectória ascendente da procura nos países produtores e emergentes. Além disso, ilustram uma nova dinâmica no mercado, já que o comportamento dos preços não é reflexo de intempéries, mas do persistente crescimento do consumo.
Se esta análise está correcta, uma questão se coloca para o futuro da cafeicultura: quais serão os países produtores que terão condições de sustentar a procura crescente?
Fonte: Revista Cafeicultura