A produção de café tem vindo a aumentar na China, mas as importações do produto tendem a crescer mais nos próximos anos.
Quando se fala em China, crescem os olhos da cadeia produtiva de café no Brasil. Natural. Exportadores da commodity e indústrias sabem que o potencial de aumento do consumo do produto no país asiático é grande, e ninguém quer perder esse comboio. Em 2012, foram pouco mais de 1 milhão de sacas de 60 quilos, ou apenas 25 gramas por habitante, mas projeções indicam que o consumo poderá chegar a 3 milhões de sacas até 2020, um ritmo de crescimento sem paralelo no mundo - e que terá que contar com a participação brasileira para ser atendido.
É claro que a confirmação desse cenário dependerá da pujança económica chinesa, como alerta a Organização Internacional do Café (OIC), e de mudanças culturais indispensáveis num país mais adepto do chá. Mas os ecos das transformações que fizeram do Japão um importante consumidor reforçam a expectativa de que a China poderá de facto estabelecer uma nova lógica no mercado mundial. E que o Brasil será beneficiado por isso.
Num estudo recente, a OIC lembra que, no passado, uma ampliação significativa do consumo de café no Japão era considerada "inimaginável". Mas as importações japonesas de café verde, que somaram 667 sacas em 1950, chegaram a uma média de 643,47 mil sacas por ano durante os anos 1960, a 1,9 milhão de sacas na década de 1970 e actualmente giram em torno de 7 milhões de sacas anuais. Na lista dos maiores consumidores do mundo, o país só perde para Estados Unidos, Brasil e Alemanha.
Mesmo sem ser milenar, a cafeicultura chinesa já tem história para contar. Foi introduzida na Província de Yunnan por um missionário francês por volta de 1887, mas manteve-se quase como uma pequena ilha até os anos 1960, quando o governo destinou uma área de 4 mil hectares na região para o cultivo do grão Arábica. Até o fim dos anos 1970, porém, menos de 7% da área reservada havia sido cultivada. No fim da década seguinte, contudo, um projecto conjunto de Pequim e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) deu mais impulso ao desenvolvimento da produção.
Mais tarde, grandes empresas como Nestlé começaram a incentivar a cafeicultura comercial na China, principalmente em Yunnan. A produção média entre 1998 e 2012 foi de 370 mil sacas por ano, com uma taxa média de crescimento anual de 15,1%. Estima-se que 748 mil sacas foram produzidas em 2012, ante 104 mil em 1998. Mas as importações, que praticamente inexistiam até 25 anos atrás, também começaram a crescer. De 1998 a 2012, a média anual das importações (grão verde e torrado) foi de 533 mil sacas, com um crescimento anual de 13,7%. Em 2012, o volume chegou a 1,4 milhão de sacas.
Nos últimos 14 anos, a taxa média de crescimento das importações chinesas de café verde foi de 15% ao ano. No período, a participação das importações de café torrado, que foi de 6,5% do total em 1998, chegou a 12,2%. Na mesma comparação, a fatia do solúvel diminuiu, de 33% para 19,1%. Mas essa queda é considerada normal. Está associada ao próprio desenvolvimento da indústria chinesa de torrefação, que beneficiou de investimentos de multinacionais de olho na forte procura.
Para o Brasil, o momento é propício para tentar garantir um bom espaço no mercado chinês. Isto porque as crescentes importações da China ainda estão concentradas no tipo Robusta, de menor qualidade. Não por coincidência, quase 50% das importações do país têm origem no Vietname, que também oferece uma evidente vantagem logística nesse comércio. Maior produtor de café Arábica do mundo, o Brasil é apenas a quarta maior origem das importações chinesas de café.
Se o cenário optimista se confirmar e o consumo do país chegar a 3 milhões de sacas em 2020 - a consultoria brasileira P&A Marketing Internacional trabalha com esse cálculo, próximo do número da OIC de 2,8 milhões de sacas -, a expectativa é que as vendas de Arábica conquistem espaço e que os embarques brasileiros aumentem, em proporção ainda maior, em linha com o amadurecimento do mercado.
A P&A ressalva que todo e qualquer estudo sobre a China esbarra na falta de estatísticas confiáveis. De qualquer forma, Carlos Brando, sócio-diretor da consultoria, diz que é preciso centrar o foco na classe média do país - composta por entre 300 milhões e 400 milhões de pessoas -, e não na população total, que supera 1 bilhão de habitantes.
São várias as "Chinas", e nem todas têm condições de consumir café ou terão até 2020. Mas já se conhece o público-alvo. Nos grandes centros, onde as cafetarias que começam a multiplicar-se são frequentadas por grupos relativamente pequenos de classe média, e a propaganda das empresas do segmento é dirigida sobretudo aos jovens, mais receptivos a mudanças e ao estilo de vida ocidental. É preciso plantar, mas a colheita promete.
Fonte: Revista Cafeicultura