A broca-do-café, escaravelho que representa uma das maiores pragas dos cafezais, pode ter adquirido a sua capacidade de colonizar as plantações graças a uma transferência de genes procedentes de uma bactéria presente no seu intestino.
Um estudo publicado nesta segunda-feira pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), desenvolvido pela equipa do Departamento de Biotecnologia e Entomologia do Centro Nacional de Pesquisas de Café da Colômbia, concluiu que uma transferência horizontal de genes, da bactéria para o escaravelho, permite ao insecto produzir uma proteína que absorve um hidrato de carbono chave presente nos grãos de café.
A broca-do-café (Hypothenemus hampei) representa uma grave ameaça para a produção mundial do fruto, e a cada ano causa prejuízos calculados em US$ 500 milhões e afecta 20 milhões de famílias de produtores.
A transferência genética horizontal, ou lateral, ocorre quando os genes passam de uma espécie para outra por meios não sexuais, e é uma força evolutiva significativa entre as células procariontes (aquelas que carecem de membrana nuclear diferenciada e cujo material genético se encontra disperso no citoplasma).
“Há muitos exemplos da importância desta transferência lateral de genes como mecanismo de adaptação ecológica neste domínio da vida”, afirmaram os autores do estudo. Por outro lado, são muito menos comuns as transferências genéticas horizontais entre os eucariontes (domínio que inclui organismos unicelulares e pluricelulares, cujas células têm núcleos verdadeiros). Os exemplos de transferência lateral entre animais são ainda mais raros.
Os cientistas identificaram um gene da praga, denominado ‘HhMAN1’, que, segundo eles, dá provas claras de uma transferência genética lateral a partir das bactérias.
“O ‘HhMAN1’ codifica uma enzima, a mananase, que representa uma classe das glicosídeo-hidrolases, jamais encontrada nos insectos”, explicam os investigadores.
“O gene provavelmente teve origem em bactérias do intestino do insecto”, acrescentaram os autores, que realizaram uma ampla pesquisa geográfica com amostras de insectos colhidas em 16 países de Ásia, África e Américas.
A presença do ‘HhMAN1’ foi detectada em 37 amostras diferentes e “a aparente omnipresença do ‘HhMAN1’ no insecto indica que a transferência genética horizontal precedeu as invasões da praga a partir da sua origem, no oeste de África, América Latina e Ásia”, aponta o artigo.
Fonte: Revista Cafeicultura