Surgiu uma polémica no movimento do “comércio justo”, que se propõe a tirar agricultores da pobreza nos países em desenvolvimento, ao oferecer-lhes um preço adicional por produtos como café, cacau e bananas. A Fair Trade USA, principal entidade desse movimento nos EUA, irritou críticos ao anunciar a sua decisão de romper com o mais importante grupo mundial do comércio justo e de fazer amplas mudanças na lista de produtos que recebem o seu selo de aprovação.
As mudanças incluem dar a designação de comércio justo ao café de grandes plantações, o que era proibido. A entidade também quer colocar o seu selo em produtos que tenham 10% de ingredientes provenientes do comércio justo, enquanto em outros países o limite é 20%. O grupo afirma que as mudanças irão beneficiar mais agricultores e trabalhadores pobres no mundo todo, e estimulará grandes empresas a venderem mais produtos do comércio justo. Em 2010, as vendas de produtos desse tipo alcançaram US$ 5,8 bilhões a nível mundial, e US$ 1,3 bilhões nos EUA.
Críticos acusam a Fair Trade USA de atenuar as suas regras, motivada talvez pela perspectiva de receber maiores comissões. Alguns vendedores de produtos do comércio justo temem que pequenos cafeicultores percam o seu espaço no mercado para as grandes plantações, e que as empresas tenham um incentivo para incluir nos seus produtos apenas um mínimo de ingredientes provenientes do comércio justo.
Paul Rice, presidente da Fair Trade USA, rejeitou as críticas de que estaria a querer aumentar a sua facturação. “Quanto mais aumentarmos o volume, mais poderemos aumentar o impacto do comércio justo”, afirmou. Segundo ele, a Fair Trade USA paga comissões exageradas à Fair Trade International – cerca de US$ 1,5 milhões no ano passado – e recebe pouco em troca.
Rob Cameron, presidente da Fair Trade International, afirmou que a organização não vai baixar os seus padrões. “O melhor que podemos fazer é garantir que iremos permanecer fiéis aos princípios que nos trouxeram até onde estamos”, explicou.
A polémica tem surpreendido muitas empresas que vendem produtos do comércio justo. Para os consumidores que prestam atenção à origem e à forma de produção dos alimentos que consomem, o resultado pode ser uma confusão perante a proliferação de selos concorrentes de comércio justo.
O café, que segundo Paul Rice, representa mais de 70% do comércio justo nos EUA, é o produto que está no centro dessa disputa.
Mais de 20 países têm organizações que concedem os selos de comércio justo. A Fair Trade International tem um logótipo padrão que aparece nas embalagens na maioria dos países.
A maioria dos programas de comércio justo no mundo já aceita bananas, chá e flores cultivados em grandes propriedades. Mas, tradicionalmente, o café e o cacau do comércio justo provêm de pequenas propriedades organizadas em cooperativas. Os produtores recebem um valor adicional para usarem em projectos comunitários, como escolas e hospitais.
Fonte: Revista Cafeicultura