O consumo de café não interfere na gravidade da doença arterial coronária (DAC), revela um estudo do Programa Interunidades de Pós-graduação em Nutrição Humana Aplicada (Pronut) da USP. O estudo da nutricionista Juliana Gimenez Casagrande em 115 portadores de DAC mostra que um aumento de 50 mililitros na ingestão diária da bebida, equivalente ao volume de uma chávena, pode diminuir em cerca de 3,15% a probabilidade do paciente vir a apresentar um quadro mais grave da doença.
A pesquisa analisou pacientes do ambulatório de cardiologia do InCor Osasco, localizado na Policlínica Zona Norte Dona Leonil Crê Bortolosso, em Osasco (Grande São Paulo) e na Unidade Clínica de Coronariopatia Crónica do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clinicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). “Os critérios de selecção utilizados para inclusão de pacientes com coronariopatia diagnosticada foram histórico de revascularização cirúrgica, angioplastia e exame de cinecoronariografia que constate obstrução coronária”, afirma a nutricionista.
De acordo com Juliana Casagrande, poucos estudos apontam alguma conclusão significativa sobre os efeitos do consumo de café em doenças coronárias. “A maioria estuda o efeito sobre os factores de risco para a DAC, como dislipidemia (níveis elevados de lípidos no sangue), hipertensão arterial e diabetes mellitus”, aponta. “Os participantes da pesquisa não receberam nenhuma orientação específica sobre a quantidade de café a ser consumida, apenas os que tomavam moderadamente a bebida foram orientados de que não havia necessidade de interromper totalmente o consumo”.
Os pacientes foram acompanhados durante um ano e meio. O estado clínico dos pacientes foi avaliado por intermédio da aplicação de um questionário com cerca de 25 questões divididas em seis blocos: identificação, classificação sócio-económica, história clínica, avaliação antropométrica, hábitos alimentares (incluindo o consumo de café) e qualidade de vida. O estudo mostrou que a ingestão de café demonstrou uma relação significativa com menores níveis de gravidade da DAC. “Não foram verificados efeitos maléficos para a qualidade de vida dos portadores da doença”, ressalta Juliana Casagrande. “A única relação inversa significativa foi entre o consumo de café e estabilidade de angina (dores no peito de origem cardíaca)”.
A investigadora afirma que a pesquisa não determinou uma quantidade específica de consumo de café que seja boa ou má para a DAC. “O que foi observado é que o aumento do consumo diário de 1 ml de café diminui em aproximadamente 0,063% a probabilidade do paciente vir a apresentar um pior quadro da doença”, explica. “Convertendo em proporções maiores, o aumento do consumo diário de 50 ml de café diminui em cerca de 3,15% a probabilidade do paciente vir a apresentar um quadro mais grave de DAC”. A nutricionista relata que outros estudos levantaram a hipótese de que a presença de antioxidantes na bebida esteja associada a uma redução dos processos inflamatórios que desencadeiam a DAC.
O estudo também verificou uma relação marcante entre consumo de gorduras, gravidade da DAC e capacidade física. “Muitos estudos já apontam uma relação benéfica entre o consumo de café, com quantidade ainda indeterminada, e os fatores de risco para a doença”, diz a nutricionista. “Uma relação que ainda deve ser vista com cautela é o consumo excessivo em portadores de hipertensão, pois já foi visto que a ingestão moderada da bebida não eleva a pressão arterial”.
A nutricionista aponta que o consumo de café não deve ser proibido aos portadores de DAC. “Muitos profissionais de saúde recomendam uma restrição total”, afirma. “No entanto, embora a pesquisa não tenha sido conclusiva sobre a quantidade ideal, o mais indicado é sugerir o consumo moderado, que é calculado em 3 a 5 chávenas por dia. A indicação também varia de acordo com a presença ou não de hipertensão arterial no paciente”.
Fonte: Agência USP de Notícas